quinta-feira, 9 de agosto de 2007

 

Eros

Por muito desagradável que seja este assunto, é impossível passá-lo em claro: o amor dos rapazes desempenhou um papel demasiado importante na educação grega.
Verifica-se até, que a palavra "amor" (eros) raramente se vê usada nos textos da época clássica quando se trata da atracção normal dos sexos e que a reservam quase exclusivamente ao amor homossexual.

Um poeta como Ésquilo, que nunca representara no teatro o amor-paixão entre um homem e uma mulher, escolheu como assunto dos "Mirmidões" o amor carnal de Aquiles e de Pâtroclo (quando a "Ilíada" apenas imaginou entre os dois heróis uma amizade calorosa mas pura).

A tradição era tão forte na Grécia, nesse ponto, e tão persistente que, ainda na época romana, Plutarco, embora fosse ele próprio excelente marido e chefe de família numerosa, há-de crer-se obrigado a consagrar muitas páginas do seu "Diálogo sobre o Amor" à demonstração de que as jovens, no fim de contas, também como os rapazes, era capazes de inspirar um sentimento apaixonado!

Argumentar-se-á que este estado de coisas provinha, em Atenas, do facto de as raparigas viverem reclusas e serem iletradas. Mas, em Esparta, onde elas se mostravam em público seminuas e onde os rapazes pouco cultivavam a inteligência, a pederastia abundava (ou causava estragos) mais profunda e abertamente do que em Atenas. Em compensação, é inegável que a nudez dos jovens em casa do pederasta favoreceu a pederastia.




Cena de pederastia na palaestra


As numerosas pinturas de vasos, que representavam crianças e efebos praticando ginástica, possuem inscrições do tipo de "calos" que são outras tantas dedicatórias a "formosos rapazes".
A cidade Grega, mesmo evoluída, como a Atenas do século de Péricles, continua a ser um "clube de homens", "um meio masculino fechado" interdito ao outro sexo, no qual a dedicação apaixonada de um homem e de um adolescente de doze a dezoito anos pode ser fomentadora de nobres sentimentos de honra e coragem.
O famoso "Batalhão Sagrado" de Tebas, no século IV, é um exemplo típico de bravura colectiva sustentada e cimentada por "amizades especiais".
Admitamos que o amor de Sócrates por Alcibíades se tenha mantido puro, aliás com grande despeito do jovem, mas como dirá Plutarco, " Se o amor dos rapazes renega a voluptuosidade, é porque tem vergonha e teme o castigo; como necessita de um pretexto honesto para se aproximar dos rapazes belos, começa por pôr em evidência a amizade e a virtude.
Cobre-se de poeira no ginásio, toma banhos frios, ergue as sobrancelhas; cá fora, dá-se ares de filósofo e de sábio, por causa da lei; depois, à noite, quando tudo repousa, doce é a colheita na ausência do guarda".
Uma máxima tipicamente grega diz que a beleza física é " a flor da virtude" como se a alma modelasse sempre o corpo e como se a um belo corpo só uma bela alma pudesse corresponder!

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                                                     cat128.gif Colocado por delta -- quinta-feira, agosto 09, 2007