segunda-feira, 9 de outubro de 2006

 

Prometeu... o criador do homem.

Seja qual for a base histórica, a guerra de Tróia é o episódio isolado mais importante, ou complexo de episódios, que sobreviveram na mitologia e nas lendas gregas. Os eventos que causaram a guerra e aqueles que se seguiram estão combinados num grupo de estórias conhecidas como o Ciclo Troiano: algumas são conhecidas a partir dos dois grandes poemas Homéricos, a Ilíada e a Odisséia, mas outras partes da estória devem ser reunidas de numerosas outras fontes, indo desde os dramaturgos gregos do século V a.C., até autores romanos mais recentes. A estória como um todo pode ser comparada a uma ópera wagneriana na sua riqueza e complexidade, ao entrelaçar de personagens e temas; é bastante romântica e de grande apelo humano, pois, como todos os mitos gregos, trata-se da estória fundamental do homem e da sua luta face ao destino e aos deuses.


Um dos primeiros elos da cadeia de eventos que formaram o prelúdio da guerra de Tróia foi forjado por Prometeu.
A figura trágica e rebelde de Prometeu, símbolo da humanidade, constitui um dos mitos gregos mais presentes na cultura ocidental. Filho de Jápeto e Clímene, Prometeu pertencia à estirpe dos Titãs, descendentes de Urano e Gaia e inimigos dos deuses olímpicos.


O poeta Hesíodo relatou, em sua Teogonia, como Prometeu roubou o fogo escondido no Olimpo para entregá-lo aos homens. Fez do limo da terra um homem e roubou uma fagulha do fogo divino a fim de dar-lhe vida. Para castigá-lo, Zeus enviou-lhe a bela Pandora, portadora de uma caixa que, ao ser aberta, espalharia todos os males sobre a Terra.

Como Prometeu resistiu aos encantos dessa mensageira, Zeus para o castigar, ordenou que Vulcano o acorrentasse a um rochedo no cimo do monte Cáucaso, onde todos os dias uma águia (ou abutre) ia comer-lhe o fígado, que, sendo Prometeu imortal, voltava a regenerar.

O mito de Prometeu, inseparável da questão da origem do "fogo", situa-se entre os mais antigos e universais, pois encontramos seus equivalentes nas mitologias indiana, germânica, céltica e eslava. O fogo significava a matéria-prima alquímica que originava e fortalecia a inteligência e a sabedoria, fazendo com que os Homens se diferenciassem dos animais.

A tragédia teatral "Prometeu Acorrentado", de Ésquilo, foi a primeira a apresentá-lo como um rebelde contra a injustiça e a omnipotência das forças da natureza, imagem particularmente apreciada pelos poetas românticos, que viram nele a encarnação da liberdade humana, que leva o homem a enfrentar com orgulho o seu destino.

Prometeu significa etimologicamente "o que é previdente", o que pensa primeiro e depois age, ao contrário de seu irmão, Epimeteu, aquele que primeira faz e depois reflecte.


O poeta romântico alemão Goethe escreveu um pequeno poema de 8 estrofes sobre a lenda de Prometeu entitulado "Prometheus" (1774):

"Encobre o teu Céu ó Zeus
com nebuloso véu e,
semelhante ao jovem que gosta
de recolher cardos
retira-te para os altos do carvalho ereto
Mas deixa que eu desfrute a Terra,
que é minha, tanto quanto esta cabana
que habito e que não é obra tua
e também minha lareira que,
quando arde, sua labareda me doura.
Tu me invejas!
(...)
Eu honrar a ti? Por quê?
Livras-te a carga do abatido?
Enxugaste por acaso a lágrima do triste?
(...)
Por acaso imaginaste, num delírio,
que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo
por alguns dos meus sonhos se haverem
frustrado?
Pois não: aqui me tens
e homens farei segundo minha própria imagem:
homens que logo serão meus iguais
que irão padecer e chorar, gozar e sofrer
e, mesmo que forem parias,
não se renderão a ti como eu fiz"

Goethe descreve um homem extraordinário, que se nega a venerar deuses ou estar sob a submissão de alguém. A partir de então Prometeu ficou conhecido como uma importante figura no Romantismo.



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